Conselhos são para você mesmo
Blog | 4 | 03/03/2021
Se alguém me pedisse um conselho sobre chocolate, ele seria simplesmente “coma”.
Eu adoro chocolate e talvez você, que está lendo este texto, também adore. Tudo bem, pode ser que você não adore, apenas goste.
Provavelmente, para ter essa opinião, você um dia decidiu experimentar e, voilà, cá estamos falando deste doce incrível!
O fato é que não dá para não gostar de algo sem experimentar. Podemos até dizer que não gostamos, mas sem ter provado, é muito difícil que isso seja verdade. E isso vale pra tudo na vida: como dizer que brócolis é ruim ou que os livros do Harry Potter são para adolescentes, se você não experimentou nenhum deles?
Vai ver você já recebeu, assim como eu, conselhos do tipo: “Vai viajar na América do Sul? Você deveria ir pra Disney antes!”.
Conselhos relacionados à viagem frequentemente estão ligados ao gosto pessoal e, quase sempre, se parecem com esse exemplo que dei.
Foto: Clem Onojeghuo - Unsplash
Inclusive, já ouvi alguém dizendo que não vale a pena ir pra Miami, pois as praias são feias, nada diferente das praias de Santos (não são minhas palavras), e que lá tudo é muito caro e sem graça (sobre ser caro, ok, é mesmo!).
A verdade é que, quem fala assim, fala mais como se refletisse consigo mesmo sobre aquela experiência vivida e tenta repassar essa percepção para quem o ouve.
O problema é quando isso te impede de vivenciar algo por si mesmo e tirar as próprias conclusões. E é isso que sempre me incomodou - se a pessoa pôde experimentar aquilo, conhecer aquele lugar e opinar, eu não deveria poder fazer o mesmo?
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Aliás, veja só como conselhos assim exercem certo poder sobre nós e podem influenciar nossas experiências - hoje pela manhã, enquanto tomava um gole do meu café e pensava em terminar este texto, conversei com uma colega que estava prestes a voltar de Cancún, numa viagem que teve tudo para ser linda, a julgar pelas fotos que vi.
Não pude deixar de notar que ela não havia postado nenhuma foto em Chichén Itzá - se você não sabe, Chichén Itza é uma cidade pré-colombiana símbolo da evolução do povo maia, e do qual a imagem mais famosa é a sua pirâmide Kukulcán.
Tive o privilégio de poder visitar o lugar, que é considerado uma das Maravilhas do Mundo Moderno, na minha viagem para o México em 2013. Posso dizer sem receios: recomendaria esse passeio para todos! Eu mesmo o faria novamente!
O que aconteceu foi que minha colega resolveu não visitar este maravilhoso sítio arqueológico porque lhe disseram que lá fazia muito calor e que ela teria que andar muito (a cidade maia fica em Yucatán, numa viagem que leva cerca de 3 horas de Cancún).
Meu ponto é: será que ela não deveria saber detalhes do passeio e decidir por si mesma, sem esse “conselho” super direcionado e um pouco enviesado?
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Vamos voltar ao exemplo do chocolate. Imagine que eu nunca tenha provado o doce na vida, porque um dia alguém me deu o conselho de que não era bom e nem valia a pena experimentar, e eu provasse um chocolate hoje, com os meus 33 anos.
A minha primeira reação seria odiar a pessoa que me deu o conselho lá atrás, já que eu provavelmente iria adorar o sabor e não ficaria nada satisfeito em ter deixado de comer chocolate por todos esses anos!
A segunda reação seria, muito provavelmente, comprar vários chocolates para tirar o atraso!
Sempre me incomodei com conselhos restritivos, que pareciam ordens, que faziam eu me sentir muito errado por algo que estava fazendo (ou planejava fazer), como por exemplo, escolher um destino de viagem ao invés de outro.
Também me incomodava pensar em conselhos que eu havia recebido e que não pareciam ter um pingo de consideração por mim. Era como se as palavras que estavam sendo ditas importassem mais do que aquilo que eu sentia.
Parecia que só estavam me aconselhando para reafirmar uma ideia ou crença.
Aliás, eu já fui essa pessoa, já dei esses conselhos. Já tentei repassar minhas crenças e ideias como se elas valessem mais do que as do meu próximo.
Mesmo quando o conselho é bom, se ele vem carregado desse desejo de estar certo ou de imposição, as chances de que alguém o leve a sério são mínimas, pois as palavras agridem e não fazem sentido.
Pare pra pensar: quantas vezes você já ficou bravo por algum conselho que te deram? Será que o “conselho” não veio somente como uma crença sendo passada adiante, quase uma imposição?
Aprendendo com seus erros
Costumo pensar que as pessoas precisam experimentar e decidir por si mesmas se algo vale ou não a pena.
É quase como aquele negócio de “aprender com seus erros”: você precisa experimentar e tirar as suas conclusões. Talvez nem sempre erre, mas em toda experiência tem uma lição.
Pessoas aconselham porque querem ajudar, porque querem estar certas, por inveja, ou porque lhes passa a sensação de poder e de maior conhecimento.
Certa vez, li que os conselhos são autobiográficos - estão falando com elas mesmas no passado, como se estivessem refletindo e conversando com uma versão anterior de si mesmas, antes de terem aprendido a lição contida naquele ensinamento.
E esta me parece ser a principal razão pela qual alguém oferece um conselho: porque falamos de experiências passadas. Quem aconselha, muitas vezes fala por experiência própria ou porque viu alguém próximo na mesma situação.
Se seu desejo é ajudar, dê um alerta, não um ultimato. Dê o conselho para ajudar, mas deixe em aberto a opção de experimentar.
Ah, antes que me esqueça: este texto não é um conselho; estou apenas falando comigo mesmo.
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Texto: Vinícius Marchetti
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